Sobre Espiritismo    
Claudio C. Conti    

  


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A Transfiguração

Conhecimento do Futuro e Livre Arbítrio

Um Mundo em Transição

A TRANSFIGURAÇÃO


31/03/2017

O fenômenos de transfiguração é um dos mais difíceis para a compreensão do processo em si e, por isso, não é de fácil explicação. As mesas girantes, alçar mobília ao espaço, levitação e muitos dos fenômenos físicos são mais simples para se trabalhar o conceito.

Os corpos materiais se mantém “presos" à superfície do planeta devido à força gravitacional. Assim, sendo decorrente da ação de uma força e esta, por sua vez, é uma expressão do fluido cósmico, pode-se sugerir que a força da gravidade seja anulada ou minimizada pela ação do pensamento sobre o fluido que se expressa com aquela força.

Processo semelhante pode ser utilizado como explicação para a presciência, tanto no tempo quanto no espaço, pois, assim como a força gravitacional, o tempo e o espaço também são expressões do fluido e, por isso, sofrem ação do pensamento dos espíritos que podem acessar diferentes pontos tanto no tempo como no espaço.


N’O Livro dos Médiuns, Kardec apresenta a transfiguração como consistindo da “mudança do aspecto de um corpo vivo”[1] e relata o caso de uma menina de 15 anos que se transfigurava em pessoas já desencarnadas. Contudo, não era apenas uma questão de forma exterior, mas, inclusive, trejeitos e som da voz. Diante deste relato, não se pode considerar o processo como uma espécie de envoltório, mas uma reorganização completa da estrutura física.

A grande dificuldade em tentar explicar o processo deste fenômeno é decorrente do fato de que o corpo físico não é formado por matéria inerte ou morta, mas células vivas que já ocupam uma posição definida, formando uma estrutura composta de feições, altura, peso, etc. As células são seres inteligentes e, por isso, não podem ser reorganizadas de um momento para outro e, após alguns tempo relativamente curto, serem revertidas para a forma original.

Como explicar uma reorganização de uma enorme quantidade de células?

Os casos em que o espírito se apresenta aos encarnados por uma forma não correspondente a sua última encarnação (ou uma aparência que não seja decorrente de adequação por longo tempo na erraticidade), tal como a sua aparência em alguma outra encarnação, é, apesar de parecer muito mais fácil de explicar, um processo tão complexo quanto a da transfiguração. Acredita-se que o perispírito é mais plástico que o corpo físico, todavia, o perispírito de espíritos desencarnados da Terra também é formado por células, tão vivas e tão ativas quanto a dos encarnados. Pode-se dizer, então, que as células na condição da matéria densa, tanto quanto na perispiritual, formam uma estrutura orgânica viva e funcional, por isso, esta estrutura deve ser muito bem organizada e cada uma das células deve funcionar em uníssono com o grupo.

Precisamos, portanto, ampliar um pouco as considerações e expandir o conceito de interconectividade psíquica que, por sua vez, apresentará o equivalente material. A interconectividade é baseada num sistema de relações, não mais prevalecendo como um universo de corpos isolados e independentes. O cientista americano Dean Radin, em seu livro Mentes Emaranhadas (Entangled Minds) aborda em profundidade a questão da relação entre seres vivos e, destes, com a matéria[2].

O sistema de relações pode ser aplicado para entendimento das limitações estabelecidas para o livre arbítrio em conformidade com o grau evolutivo e para a relação do espírito para com as células que compõem o corpo em que se expressa.

O campo de ação de determinado espírito está diretamente limitado pela condição de existência (faixa evolutiva) imediatamente superior; estas limitação são barreiras estabelecidas pela própria matéria. Em outras palavras, uma faixa evolutiva estabelece o campo de ação mental, mas que repercutirá no material, dos que lhe estão abaixo. A limitação de ação mental estabelece a limitação do livre arbítrio. Conforme o espírito evolui, naturalmente alcança o nível acima, ampliando o livre arbítrio em conformidade.

A relação do encarnado para com a células que compõem seu corpo físico deve ser abordada de forma semelhante, por lhe serem inferior, evolutivamente falando. Assim, estas células não obedeceriam comandos diretos, como ordens sequenciais e lineares, mas ao processo de interconexão, ou emaranhamento mental.

Para fins de comparação, podemos utilizar a imagem da ordem unida, muito comum nos quartéis militares. Nestes exercícios, todo o pelotão, apesar de ser formado por individualidades, obedecem aos comandos como se fossem um único corpo.

As células, por sua vez, seguem um campo de informação único que é gerado e mantido pelo espírito encarnado por apresentarem maior capacidade mental. Nos fenômenos de transfiguração, o encarnado promoveria a alteração do campo de informação; as células, por sua vez, se adequariam ao campo modificado sem questionamentos ou rebeldia devido à limitação do seu livre arbítrio, e se comportariam segundo este novo campo de informação, podendo chegar ao ponto de alterar completamente a aparência externa e a configuração interna do corpo, tal como as cordas vocais.

Talvez possa parecer estranho as colocação sobre livre arbítrio, hierarquia evolutiva, dentre outros, com relação às células. Porém, André Luiz (espírito) no livro Evolução em Dois Mundos[3] trata da questão celular de forma muito clara e completa onde aborda a estrutura mental das células, a direção automática através dos centros vitais, etc. Diz ainda que "essas células que obedecem às ordens do espírito, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ele criadas, procedem do elemento primitivo, comum, de que todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios, desde o seio tépido do oceano, quando as formações protoplásmicas nos lastrearam as manifestações primeiras”.

Amplo estudo, intitulado Mentes Emaranhadas, foi apresentado no Instituto de Cultura Espírita do Brasil, onde abordou-se a hierarquização do grau evolutivo dos espíritos e a correlação ao ensinamento de Jesus de amar ao próximo como a si mesmo[4].


Referências:
[
1] Allan Kardec; O Livro dos Médiuns; Editora FEB, 61a. edição, 1995 (1861); Capítulo VII, item 122.
[2] Dean Radin; Entangled Minds; Editora Paraview Poquet Books, 1a. edição, 2006.
[3] André Luiz (espírito); Evolução em Dois Mundos; psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, 15a. edição, 1997; Capítulo 2, pg. 13.
[4] Claudio C. Conti; Mentes Emaranhadas; Video de aula; TV ICEB: http://tviceb.com/tviceb/index.php/media-gallery/145-mentes-emaranhadas; YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=7H7XeI34oA4 br>

Texto originalmente publicado na Revista Cultura Espírita







CONHECIMENTO DO FUTURO E LIVRE ARBÍTRIO


31/01/2017

O tempo é um tema para muito debate e questionamentos. É comum pensarmos no tempo como passado, presente e futuro sem, com isso, dedicarmos muito atenção do que se trata nem, tampouco, ponderar mais atentamente para o passado e futuro que se estendem de um ponto, o presente, para o infinito, porém, sentidos opostos.

O que jaz atrás e à frente do presente? Onde foram aqueles momentos vivenciados que, muitas vezes nos trazem lembranças alegres ou tristes, mas que são capazes de causar palpitações no peito?

Quanto ao futuro? O passado nós já vivemos e não existe mais, enquanto que o futuro também não existe, porém, ainda.

A sensação é de que o tempo funciona como uma esteira rolante, levando o passado embora e trazendo o futuro? Porém, o futuro é trazido de algum lugar ou surge espontaneamente?

Com relação ao futuro, Kardec questiona os espíritos na questão 868 de O Livro dos Espíritos:


Pode o futuro ser revelado ao homem?
“Em princípio, o futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais permite Deus que seja revelado.”


É difícil de dizer se esta resposta dada pelos espíritos esclarece ou complica ainda mais, pois, somente poderá ser ocultado ou revelado algo que já exista. Ninguém poderá ocultar ou revelar o nada. Assim, pode-se concluir que, de alguma forma, o futuro exista.

Contudo, ao se considerar que o futuro exista, surge questionamentos acerca da existência do livre arbítrio. Kardec apresenta longa explanação sobre o livre arbítrio em O Livro dos Espíritos:


872. A questão do livre-arbítrio se pode resumir assim: O homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de espírito, ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido.


Verifica-se, portanto, que o livre arbítrio existe e também está disponível para o espírito ao longo de sua encarnação, nas escolhas que faz ao longo da experiência carnal.

Voltamos, deste modo, novamente à questão do tempo.

O que é o tempo?

Como esta pergunta ainda é de difícil resposta e na tentativa de tornar o tema mais fácil, podemos nos deter ao presente: O que é o presente?

Podemos chamar o dia como presente? A hora? O minuto? O segundo? O cronômetro do meu celular mede centésimos de segundo, então o presente seria o milésimo de segundo?

Talvez o presente seja apenas a linha divisória entre o passado e o futuro. Contudo, se o passado já não existe mais e o futuro ainda está por vir, o que é que o presente divide?

Esta análise foi desenvolvida pelo filósofo Agostinho de Hipona no livro Confissões, ainda no Século IV.


Kardec torna a abordar o tema no livro A Gênese, Cap. XVI - TEORIA DA PRESCIÊNCIA, e aborda o conhecimento do futuro sob dois aspectos distinto: 1) Resultado de eventos em andamento e; 2) Eventos futuros que não guardam relação com os atuais.

Com relação aos eventos em andamento, é fácil o entendimento de que a previsão do futuro é decorrente do que se observa, contudo, não é garantia de que realmente o evento previsto irá ocorrer realmente. Kardec entra na questão dos eventos que não guardam relação com os eventos em andamento e diz:


“Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o mesmo fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles”.


Assim, verifica-se que a possibilidade de conhecer o futuro não é a condição de todos os espíritos, pois está diretamente relacionada com elevação espiritual.

Na questão 27 d’O Livro dos Espíritos, onde Kardec questiona sobre os elementos gerais do universo, a resposta obtida apresenta considerações sobre o fluido cósmico diz que: “Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo (o fluido cósmico) com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais”.

O capítulo VI, também do livro A Gênese, intitulado Uranografia Geral, Kardec aborda esta e outras questões relacionadas: o espaço e o tempo, a matéria, as leis e as forças, dentre outros. Tanto o tempo, quanto o espaço, forças, etc, são modificações do fluido, portanto, formados por fluido cósmico.

O fluido cósmico, portanto, apresenta propriedades de expressão distintas da matéria daquela mais comum, a matéria. Assim, o tempo poderia ser considerado como uma expressão do fluido cósmico e, sendo fluido, poderá ser acessado pelo pensamento daqueles que apresentam a possibilidade para tal - os espíritos elevados. Portanto, o futuro pode ser acessado pelo pensamento.

A nossa percepção de tempo e espaço são formas como o fluido cósmico se expressa e a ação do pensamento sobre este fluido dependerá, obviamente, do nível evolutivo do espírito.

Livre arbítrio X fatalidade

Kardec, em sua dissertação sobre o tema deixa o entendimento claro nas passagens extraídas do item 872 de O Livro dos Espírito:


"…Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de Espírito, ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido.”

"Contudo, a fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em consequência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes. Aí, porém, acaba a fatalidade, pois da sua vontade depende ceder ou não a essas tendências. Os pormenores dos acontecimentos, esses ficam subordinados às circunstâncias que ele próprio cria pelos seus atos, sendo que nessas circunstâncias podem os Espíritos influir pelos pensamentos que sugiram.”

"Há fatalidade, portanto, nos acontecimentos que se apresentam, por serem estes consequência da escolha que o Espírito fez da sua existência de homem. Pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto ser possível ao homem, pela sua prudência, modificar-lhes o curso. Nunca há fatalidade nos atos da vida moral."







UM MUNDO EM TRANSIÇÃO


05/01/2017

Muito gostaria de relacionar maravilhas que seriam decorrentes da passagem do planeta Terra da condição de expiações e provações para a de regeneração, como num processo automático, no qual todas as dificuldades desapareceriam para dar lugar as benesses, tal como, muitas vezes, vemos propalados. Todavia, esta ainda é uma visão do paraíso que seria alcançável com a desencarnação dos "eleitos" e, nesta abordagem simplista, os espíritas, dessa vez, seriam os eleitos.

Em muitas situações e colocações tem-se a impressão de que o simples fato de se considerar e/ou acreditar ser "espírita" já o credenciaria como conhecedor e praticante do Evangelho apresentado por Jesus quando da sua passagem na Terra na condição de encarnado. Vale ressaltar que todo aquele que se encontra ligado à um mundo de expiações e provações não pode se considerar como conhecedor e/ou praticante do Evangelho, caso contrário, não estaria mais por aqui, salvo em missão. Somos, no máximo, estudantes no nível fundamental.

Não se pode negar que o planeta passa por tribulações em vários níveis. Em algumas regiões vê-se tentativas de se estabelecer condições mais adequadas de vida, enquanto que, noutras partes, ainda se degladiam com questões fundamentais de direitos e deveres, uma degradação da vida humana, mantendo-se presos à busca do poder e domínio à todo custo ou crenças religiosas arraigadas na ignorância.

A transição não é um processo fácil, nem, tampouco, para condições materiais mais confortáveis. A mudança que se anuncia não é material, mas moral. Desta forma, pode-se considerar a possibilidade de condições rudimentares de vida material, porém, moralmente mais confortável. Menos conforto e mais trabalho, contudo, mais harmonia entre os seres e entre estes e o ambiente, pois dependerá deste para a manutenção da vida.

Para se pensar em vida material com certo conforto e abundância, mesmo que sem exageros, é preciso a conscientização e o trabalho precoce na preservação do ambiente.

Conceitos atuais são elaborados em decorrência da observação e análise da situação em que nos encontramos e que servem de alerta para os variados seguimentos da sociedade:


a. Ecologia Social

“O estudo dos grupos humanos em interação com o meio em que vivem, sendo esta interação determinante da identidade e das formas de atuação desses grupos humanos em seu meio. Logo, interessam-lhe os estudos de comunidades, populações e grupamentos humanos levando-se em consideração, principalmente, a dimensão cultural como organizadora da dinâmica destes grupos." (Estudos Interdisciplinares de Psicossociologia e Ecologia Social - www.eicos.psycho.ufrj.br)

b. Epigenética

"O número de variantes genéticas que nos dar uma característica marcante, como olhos azuis o cabelo loiro, é conhecido como variante genética altamente penetrante, e elas estão em minoria, formando cerca de 5% do total. Mas, na maior parte dos casos relativo à saúde e à personalidade, o nosso destino genético não é imutável. Os genes são apenas uma componente da interrelação quase infinita entre DNA, comportamento e ambiente." (Supergenes - Deepak Chopra)

c. Empresa Viva

"Uma organização que se vê como uma comunidade de seres humanos que estão no negócio de se manter vivo." (A Empresa Viva - Arie de Geus)


Estes são conceitos que demonstram a importância da humanidade se tornar "mais humana", percebendo que não é possível a perpetuação da espécie em condições sadias sem considerar o outro e o meio que o cerca. É imperioso trabalhar em e pela sociedade.

O planeta Terra é um sistema fechado em termos materiais, as reservas são limitadas. Algumas são renováveis outras não. O uso adequados destas reservas é um exercício da inteligência que propicia meios para a evolução do espírito. Somente com o uso adequado poderemos passar para uma outra condição de mundo em um planeta verde. A outra opção é a humanidade ter que sobreviver em uma planeta árido, no qual as necessidades serão outras.